Coluna DNA

 

Toda a infinitude do pensamento

Da designação do Clube, resulta uma sigla e a partir desta recria-se a imagem um ser simpática, que desperta afectos; refugia-se em eucaliptais, de fragmentados e esparsos  habitats predilectos, na zona sul, de continente longínquo, que o lendário James Cook foi dos primeiros a visitar.

Terra de promessas e de horizontes sempre a perder de vista, onde o tempo também tem uma dimensão a que não estamos habituados, mas que, quem um dia teve a oportunidade de experimentar, sempre anseia.

Privilegiado, em época ida, com uma imersão num habitat exótico,com estas escalas, de há anos a esta parte, e de quando em vez, a imaginar novos espaços e tempos, vou desembocar no pensamento, que um velho Mestre da Academia [1] , decidiu, e bem, trazer à escrita:

Toda a infinitude do pensamento assenta numa condição a que chamamos esperança e parte de uma coisa que se designa de promessa.
Esperança na resposta ao apelo, certeza no cumprimento da promessa.
O olhar longo do pedido cruza o sorriso doce da promessa.

Virá a propósito este ideário? Seguramente!

Tem a ver com parte do âmago dos que abraçarem este projecto, com o que deve impregnar a sua personalidade, bem como a de novos associados.

E porque, sobranceiro à aventura, à orientação, ao desporto em geral, existe um patamar, a que devem aceder os que, para além do mais, não deixam para trás verdades ou princípios, como a infinitude de pensamento, a esperança e a promessa; por omissão, falha-se na resposta ao apelo e no cumprimento da promessa e não se capta o olhar do pedido, de quem quer que seja.

Ocorre-nos que o Velho Mestre, que citamos, e Miguel Torga têm de comum a terra de Trás os Montes que os viu nascer e o estudo das ciências médicas, na mesma cidade de Coimbra.

Miguel Torga , foi o poeta das coisas simples, da terra e do mar que seduz, transfigurando de forma sublime estas mesmas coisas.

Admite-se que esta intimidade com as forças elementares, a terra, o sol, o vento e a água estará sempre acessível num passeio pelo campo e pela floresta, se entretanto, prevenidos, soubermos evitar que o que ainda resta de terra arável e de matas, se transforme em mais urbanizações ou em infernos de cinzas.

As técnicas de orientação, são a ferramenta que descondiciona o instinto e ajuda a remover os medos de caminhar na floresta; o seu titular, o novo caminhante, no limite ecce homo, vai aperceber-se, paradoxalmente de raízes bem presas à terra e liberto das amarras que o prendem, numa exigência de liberdade.

E por quê? Porque lhe é dado percepcionar que, como também Torga registou no seu Diário (XIII):

«Portugal é isto: um panorama inolvidável. Um panorama que começa em Santa Luzia, no Minho, e chega a esta Foia do Algarve, onde estou batido pelo vento, a encher os olhos de montes e vales, de rio e mar, como só os há nesta terra bendita”.

E está a razão saciada.

Para além da promoção de actividades, destinadas a recriar este sentir, o que se pode designar globalmente de projecto COALA, possui uma pulsão genésica, capaz de estruturar personalidades, relacionar pessoas, e mostrar um genuíno interesse pelos outros.

Levá-los a não separar as realizações pessoais de outras mais profissionais (ou escolares); ou a não separar trabalho do prazer.

Porque no “desporto da floresta” só se pode caminhar bem, quando alimentados pelo pensamento criativo e este cresce, se conseguirmos uma base de entusiasmo vivencial e uma vertigem para a criação.

DNA

^ (1) De seu nome António Coimbra de Matos, Professor Jubilado,  insigne Psicanalista.